quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Então, de repente, ela se viu presa; entre a cruz e a espada. Era a hora de tomar uma decisão e não havia mais para onde correr. Ou continuava a viver de forma incerta, ou lhe proporcionava mudanças radicais, com consideráveis possibilidades de êxito. De certo que, até poderia continuar com toda aquela situação que trazia a ela uma distante sensação de ser amada, mas por motivos não tão óbvios assim, ela preferiu arriscar e dar à sua história, um leque a mais de possibilidades.
O que ela vivera até ali, havia lhe condicionado a coisas inimagináveis aos pensamentos de quem a rodeava, mas isso não fazia diferença. Não pra ela! Ela era o que era, porque era; sem discussões e ponto. Agia exatamente de acordo com o coração, embora pudesse se arrepender mais tarde. Porém, não via nenhum problema em voltar atrás e admitir qualquer tipo de erro ou fracasso. Aquele tipo de mulher forte, incisiva.
Entretanto, a situação em que ela se encontrava até ali, não era a que se adequava melhor à uma mulher com aquelas características. Podia sim, parecer cômoda até certo ponto, mas não. Não era justo! Sujeitar-se à boa vontade dos outros por .. amor? Run! Que é isso? Como poderia alguém continuar a viver de tal forma? Depois de tanto tempo, já era hora de dar um basta em tudo aquilo.
Pensou e repensou naquilo durante todo seu trajeto de volta pra casa. Chegou em casa e mais exausta que de costume, depositou sobre a mesa da sala, a bolsa e as chaves do carro. Passou a mão em sua toalha e foi em direção ao banheiro em busca de água quente e .. tranquilidade! Em seu quarto, ainda de roupão e toalha enrolando os cabelos, foi à mais alta de suas prateleiras e tirou dela uma enorme caixa; daquelas bem coloridas. Era tão pesada que mal podia segurar. Pôs sobre a cama e permitiu-se voltar àqueles momentos retratados naquelas fotografias. Os olhos encheram de lágrimas e a cabeça, de questionamentos sem fim. Porque nada era mais como antes? O que ela havia feito? Como poderia ter contribuído tanto pra isso, sem perceber?
E permitiu-se sentir, fragilizar, angustiar, magoar, chorar, doer.
Às 2:43h, perdeu o sono. Virava, mexia de um lado pro outro e nada! Não era a primeira vez que se via às voltas com esse problema. Se provocava tanta dor, tantas dúvidas .. haveria mesmo de ser tudo que se achava que era? Não, achava que não; na verdade, tinha certeza. Mas até então, se via na iminência de surtar, toda vez que se cogitava a possibilidade de abolir aquilo de sua vida, afinal era algo completamente distinto de tudo que vivera até ali. Era, de fato, uma relação muito intensa. Quando tudo corria bem, sentia-se no ápice da felicidade. Como se não houvesse mais pra onde transbordar. Mas se quando algo parecia errado, trazia tamanho mal-estar, de forma quase insuportável, qual a explicação pra tanto?
Sentia-se cada vez mais submissa, vulnerável à um homem que ora mostrava eterno amor, ora parecia nem notá-la. E, para uma mulher tão bem resolvida, tão independente, parecia não ter uma única explicação plausível pra todo aquele sofrimento.
Afinal, pensar na possibilidade de deixá-lo, era como sentir-se acenando um adeus a quase 3 anos de sua vida, que lhe pareciam escorrer pelo ralo.
Então, finalmente, amanheceu. Um dia lindo de sábado, perfeito pra um passeio. Ela, mais que depressa, levantou-se da cama e pôs-se a planejar como faria tudo.
Iria à praia com as amigas logo cedo, almoçaria com os pais, passaria a tarde com os sobrinhos e ao anoitecer faria o que tinha que ser feito. Mas não podia pensar muito.
E assim o fez, chegou em casa, arrumou-se e esperou que ele chegasse. A ansiedade era tanta que pôde ouvir o barulho do elevador, seguido do bater da porta e dos passos pelo corredor, em direção ao seu apartamento. Logo a campainha tocou, e ela foi recebê-lo.
Depois de tanto tempo sem o ver, ela mal podia acreditar, mas não deixou transparecer. Ele sentou-se num sofá e ela, no outro. E, estranhamente até mesmo pra ela, conseguiu fazer o que queria, sendo concisa e sem titubear. Ele tentou questionar, mas ela não permitiu. Desatou a falar sem mesmo pensar em respirar.
Ao término de tudo, ela levantou-se foi em direção a porta como quisesse tirá-lo dali o mais breve possível. Ele, permaneceu sentado por alguns segundos, talvez para recuperar-se do choque; mas logo deu conta da situação. Chegando até ela, foi aproximando-se lentamente de sua boca. Ela, subitamente, já com a mão sobre a maçaneta, desviou-se e dirigiu um olhar de repreensão, sem proferir qualquer palavra que fosse. Ele recuou, percebendo que ela abria a porta e só soube justificar-se, dizendo: - Força do hábito, desculpe!
Ela nada respondeu, e o viu ir embora; embora de sua casa, de seu quarto, de sua cama, de sua vida. Em seu peito, uma miscelânia de sentimentos que nem ela poderia explicar, na verdade, procurou nem pensar!
E mais tarde, na companhia de uns amigos, dançou como nunca. Libertou-se!
Expandiu-se! Sentia-se como ampliasse os horizontes. Percebeu ali, o início de uma nova fase de sua vida; abrindo caminho para novas experiências, novas aventuras, novas pessoas. Poderia ser só euforia mas era, acima de tudo, alívio. E, sentia-se bem, aliás, muito bem!

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